11/06/2023 - 07:08 - Esportes
Rodri comemora o gol do título do Manchester City (Paul Terry / Sportimage/Icon Sport)
Foi um longo e tortuoso caminho. O Manchester City esperava por esse momento há muitos anos, muitos mais do que eles mesmos admitem. A contratação de Pep Guardiola sempre mirou todos os títulos. O da Champions League, claro, era especial. E foram muitas frustrações. Só que tudo culminou nesta noite em Istambul. Uma noite que exigiu muito do time, diante de uma brava Inter de Milão, que montou uma estratégia que funcionou a maior parte do tempo. A maior parte não é tudo. A vitória do Manchester City veio, por 1 a 0, com um gol que não poderia ser mais à imagem e semelhança do seu técnico. Gol de Rodri, meio-campista como Guardiola, cerebral como ele, e com um gol que é exatamente o que o time busca fazer.
A Internazionale fez jus à sua camisa, à sua história e à sua temporada. Fez um jogo que, taticamente, foi muito bom. Dificultou muito para o Manchester City, tornou a vida dos comandados de Guardiola muito, mas muito difícil. O empate no primeiro tempo não foi por acaso: a Inter pareceu ter mais sucesso na sua estratégia. No segundo tempo, continuou buscando, só que foi preciso um lance, um lance que o Manchester City conseguiu ser o que se acostumou a ser. Uma jogada trabalhada, um gol de um meio-campista que faz tudo em campo, que gerencia, dá ritmo e faz o jogo acontecer. Rodri foi em campo o que é Guardiola e o que foi Guardiola nos seus tempos de jogador. Por isso, o gol dele acaba sendo muito simbólico.
A Europa é finalmente azul-celeste. Conseguiu o título fazendo o seu jogo. Teve que dobrar uma Inter que foi um adversário duríssimo. Vendeu caro a derrota e mostrou o caráter da equipe. O Manchester City sofreu, sofreu muito, mas conseguiu acertar no lance que as peças adversárias se desencaixaram para colocar na rede e sair para o abraço. Guardiola, enfim, entrega a Champions que se esperava dela. A sua terceira na história, depois de duas pelo Barcelona (2008/09 e 2010/11). E nada indica quer esta foi a última.
Os dois times foram a campo com escalações bastante habituais. No Manchester City, a formação híbrida que pode ser lida como um 3-2-4-1, com uma diferença importante em relação aos jogos mais recentes que o time titular entrou em campo: saiu Kyle Walker, que foi importante na campanha, como nos jogos contra o Real Madrid, e entrou Nathan Aké, que faz o lado esquerdo na linha de zagueiros.
No mais, os titulares habituais, Rodri e John Stones como volantes, com Jack Grealish pelo lado esquerdo do ataque, Bernardo Silva pela direita, Ilkay Gündogan e Kevin De Bruyne pelo meio, com Erling Haaland no comando de ataque.
Na Inter, Simone Inzaghi tinha uma dúvida: Henrikh Mkhitaryan, que se recuperava de lesão, ou Marcelo Brozovic. Jogou Brozovic, que inclusive foi o capitão do time. Mkhitaryan começou no banco de reservas. Ao lado de Brozovic, Çalhanoglu e Nicolò Barella, dois jogadores imprescindíveis.
No mais, os titulares habituais, com Matteo Darmian na linha de zagueiros, ao lado de Francesco Acerbi e Alessandro Bastoni, com Denzel Dumfries como ala. Na esquerda, Federico Dimarco, que tem sido um jogador importante na equipe. No ataque, embora houvesse alguma dúvida se Romelu Lukaku poderia começar o jogo, Inzaghi manteve o que é mais comum: Edin Dzeko como titular, Lukaku começando no banco. Lautaro Martínez, claro, como o destaque do time no ataque.
Os primeiros dois minutos foram dos times se ajustando em campo, até que veio o primeiro susto. Haaland recebeu um passe nas costas da defesa da Inter e soltou uma bomba por cima do gol. O lance foi anulado por impedimento, corretamente marcado. Novamente o Manchester City que assustaria aos cinco minutos, quando Bernardo Silva recebeu dentro da área, fintou e chutou com perigo, mas mandou para fora.
A primeira chegada com um pouco mais de perigo veio pela esquerda. Lautaro colocou na ponta para Dimarco, que cruzou alto, a bola chegou para Barella na segunda trave e ele tocou de primeira, pelo alto, para o centro da área. Aké desviou para escanteio. Aos 18 minutos, a Inter conseguiu levar algum perigo em uma boa bola trabalhada pelo meio que acabou em chute de Brozovic, mas trombando com Lautaro. Ainda assim, foi um chute com algum perigo.
Os primeiros 20 minutos mostraram uma Inter bem colocada em campo, e dificultando o jogo do City. Conseguia escapar eventualmente, mas errava passes no terço ofensivo. A posse de bola era do Manchester City, que tentava achar um jeito de colocar o seu jogo em ação diante do bom posicionamento dos italianos.
Aos 25 minutos, um susto para os ingleses. Aké tocou para Ederson, que errou o passe e a bola caiu nos pés de Barella, só que o italiano bateu muito mal e a bola passou muito longe. Logo depois, o susto foi nos torcedores da Inter, já que uma troca de passes intensa pelo meio fez Kevin De Bruyne achar um lindo passe para Haaland, que chegou pela esquerda e finalizou forte, mas com pouco ângulo, e Onana fez a defesa. Em uma roubada de bola um pouco depois, De Bruyne teve a chance de uma finalização de fora da área, mas ele não pegou como queria e a bola ficou fácil para Onana.
O susto para o torcedor do City aos 29 minutos não foi causado pela Inter. Foi causado pela queda de Kevin De Bruyne em campo, sentindo. Ele precisou de atendimento em campo e Phil Foden foi para o aquecimento. Depois do atendimento, porém, ele voltou para o campo. Foden continuava em aquecimento, esperando para ver se De Bruyne teria condições de continuar.
Com o passar dos minutos, a pressão da Inter na marcação adiantada arrefeceu. O City também encontrou mais jeitos de achar espaço, adiantando jogadores para bater com a linha defensiva rival. De Bruyne ou Grealish, especialmente, passaram a encostar mais no ataque.
Só que aos 35 minutos, o que era um susto virou uma tristeza para o Manchester City. Depois de um lance, De Bruyne sentiu mesmo a lesão muscular e precisou deixar o campo. Foi substituído por Phil Foden, um jogador de características bem diferentes, mas que entrou, inicialmente, na mesma posição do belga, mais centralizado no meio.
O primeiro tempo terminou com a Inter conseguindo causar problemas ao jogo do City. Em termos de estratégia, pareceu executar melhor a ideia, porque o City não foi o que nos acostumamos a ver. A Inter foi mais próxima do que vimos ao longo da temporada, com uma marcação forte e transições perigosas. A movimentação da defesa da Inter para encaixar a marcação foi crucial para que o time de Inzaghi conseguisse dificultar demais o jogo do City.
Os dois times voltaram sem alterações para o segundo tempo. O Manchester City tentava a carga novamente. A Inter tinha a mesma pegada na marcação, sem pressionar tão alto quanto no começo do primeiro tempo. E o jogo começou a ficar mais quente, com entradas duras e o árbitro não marcava qualquer contato. Com isso, as coisas ficaram quentes.
O técnico Pep Guardiola pediu apoio das arquibancadas, já que a torcida da Inter fazia mais barulho. Depois, em um lance com a Inter no ataque, foi a vez de Barella pedir o apoio da galera nerazzurra. Aos 10 minutos do segundo tempo, Dzeko caiu no gramado e acabou substituído por Romelu Lukaku. O forte atacante belga foi a campo para tentar levar mais perigo no campo de ataque da Inter. Dzeko deixou o gramado depois de ter feito um bom trabalho tático, mas sem conseguir uma finalização perigosa, que é o que ele certamente gostaria como centroavante.
Barella recebeu o primeiro cartão amarelo aos 13 minutos do segundo tempo, quando uma sequência de erros dos dois lados levou a um ataque rápido pelo meio do City, que encontrou um raro espaço, e o meio-campista da Inter entrou rasgando em Foden. Ele até tocou a bola, mas o árbitro considerou a entrada muito forte. Foi uma pequena demonstração do que era a Inter no jogo: sempre em cima do lance, dividindo todas as bolas e tentando não dar nenhuma chance aos rivais.
O cenário era parecido com o primeiro tempo, com o Manchester City tendo a bola e procurando achar espaços. Só que o espaço apareceu para a Inter: em um passe de Bernardo Silva para trás, Akanji bobeou e Lautaro apareceu livre nas suas costas. Era só o argentino rolar para o meio, mas ele tentou bater no gol e Ederson defendeu. Lukaku e Brozovic, que chegavam em condição melhor, reclamaram com o argentino – e com razão.
Até que em uma jogada trabalhada aos 22 minutos, o Manchester City encontrou o espaço que precisava. Akanji achou um passe excelente para Bernardo Silva na direita, ele tocou para o meio, a bola desviou em Acerbi e sobrou no meio para Rodri, que bateu de chapa, de primeira, no canto do goleiro Onana. Não deu a menor chance de defesa. Gol do Manchester City em Istambul e festa da torcida azul-celeste na Turquia: 1 a 0.
Agora, o cenário era diferente. A Inter não teria mais a tranquilidade, porque precisava do gol. Aquela tranquilidade demonstrada pelo time até ali seria colocada à prova. O time reagiu com um lance de muito perigo. Brozovic levantou na área, Çalhanoglu desviou, Dumfries subiu de cabeça, tocou na bola, que pingou no meio da área e Dimarco apareceu nas costas da zaga e tocou de cabeça por cima, no travessão. No rebote, o próprio Dimarco tentou o toque de cabeça, mas desta vez ele cabeceou e a bola tocou em Lukaku, que acabou tirando a bola.
A Inter estava pressionada e isso mudou mentalmente o time, que agora tinha pressa. Em uma bola direta pelo meio, Onana conseguiu achar Lautaro, que acionou rapidamente Lukaku. Marcado por dois, ele puxou para a direita, já que a esquerda estava bem marcada, e finalizou. Não foi a melhor finalização que poderia e Ederson defendeu com segurança.
Eram 30 minutos e Simone Inzaghi fez duas mudanças. Colocou em campo Raoul Bellanova no lugar de Dumfries e colocou Robin Gosens no lugar de Alessandro Bastoni. Esta última, em particular, foi algo pouco usual. Dimarco, que dava sinais de cansaço, passou a ser meio-campista, com Gosens aberto pela esquerda. O time passou a estar no 4-4-2, uma formação pouco usual. Bellanova fez a mesma função de Dumfries, como um ala ofensivo pela direita.
Aos 32 minutos, o City conseguiu criar uma linda chance em finta pelo meio de Foden, que abriu o espaço, deixou Dimarco para trás e ficou de frente com Onana, mas finalizou fraco. Uma grande chance que o time perdeu para praticamente matar o jogo.
Foia vez de Inzaghi usar suas duas últimas alterações. Colocou em campo Mkhitaryan no lugar de Çalhanoglu e Danilo D’Ambrosio no lugar de Matteo Darmian. A Inter não tinha mais a organização que a caracterizava. Era puro coração, alma e seja lá o que Deus quiser. E a Inter teve uma chance absurda para empatar. Eram 43 minutos quando uma bola levantada por Brozovic encontrou Gosens, que tocou de cabeça para o meio e Lukaku, de cabeça, na risca da pequena área, tocou para se consagrar. Ederson não deixou. Uma defesaça, fundamental para impedir aquele que seria o gol de empate.
Foi uma loucura de fim de jogo, mas o Manchester City parecia destinado ao título. É um time melhor, com um trabalho consolidado, jogadores do mais alto nível e que conseguem executar um jogo fantástico. A Europa tem um novo campeão: o Manchester City é, de forma absolutamente justa, campeão da Champions League. Se faltava esse título a Guardiola no City, não falta mais. A sonhada orelhuda agora é também dos Citizens, que conquistam uma Tríplice Coroa histórica, que será celebrada daqui até a eternidade, porque o time alcançou o patamar de imortalidade. E os imortais são assim: lembrados para sempre.
Trivela; Felipe Lobo
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