As muitas dúvidas da Fórmula 1 que o GP da Austrália começará a responder

21/03/2018 - 10:15 - Esportes

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As muitas dúvidas da Fórmula 1 que o GP da Austrália começará a responder

Façamos um trato. Os testes da pré-temporada deixaram uma série de questões no ar, sendo que algumas remontam, ainda, ao campeonato de 2017. Que tal discriminarmos as perguntas que mais interessam a nós, fãs da F1, à própria competição em si também, claro, emergentes desses dois períodos, e diante do que acontecer no fim de semana na etapa de abertura do campeonato, na Austrália, e depois no GP de Bahrein, dia 8, e da China, 15, nos reunirmos aqui novamente para discutir o que apuramos?

Você tem razão, esses três eventos isolados não nos darão as respostas definitivas que procuramos. Primeiro, pelo fato de a prova de Melbourne ser a primeira do ano e em uma pista não permanente, na qual as incertezas são ainda maiores das usuais. E a segunda corrida, no deserto de Sakhir, e a terceira, em Xangai, representarem uma amostragem pequena para um calendário de 21 etapas, quando os carros receberão grande desenvolvimento, além da severas limitações de unidades motrizes, três por piloto. Mas não deixa de ser verdade que algo poderemos extrair dessas três experiências iniciais.

Veja se as questões abaixo conferem com o que mais ou menos lhe vêm à mente, se são mesmo dúvidas de caráter genérico e, óbvio, do nosso interesse:

Lewis Hamilton em ação nos testes em Barcelona (Foto: Reuters)

 Lewis Hamilton em ação nos testes em Barcelona (Foto: Reuters)

1. A Mercedes tem mesmo certa vantagem sobre Ferrari e Red Bull, como os testes de inverno deram a entender, apesar de o discuso dos seus pilotos ser outro? Segundo os pilotos de Mercedes, Ferrari e RBR, há hoje importante semelhança de performance entre os três times. Mas se existir alguma vantagem da Mercedes, de quanto é? A resposta, ou a indicação que tivermos, poderá definir o que vai acontecer até a F1 chegar de volta a Europa, no GP da Espanha, dia 13 de maio, em Barcelona, ocasião em que os projetistas, em geral, introduzem um pacote de novidades, notadamente aerodinâmicas.

3. A Ferrari não mostrou nos testes de Barcelona a mesma força de 2017, quando estreou vencendo no campeonato. Está de fato um pouco atrás da Mercedes e RBR? Sebastian Vettel recorreu ao velho e bom ditado: “Treino é treino e corrida é corrida”. Pois é exatamente atrás dessa resposta que quem gosta de F1 está. O que há de verdade nisso?

Sebastian Vettel foi o mais rápido da pré-temporada com os hipermacios (Foto: Mark Thompson/Getty Images)Sebastian Vettel foi o mais rápido da pré-temporada com os hipermacios (Foto: Mark Thompson/Getty Images)

 Sebastian Vettel foi o mais rápido da pré-temporada com os hipermacios (Foto: Mark Thompson/Getty Images)

4. Se os italianos não começarem bem o campeonato, terão competência e equilíbrio, em especial, para tentar mudar uma situação menos favorável? O grupo de jovens e pouco experientes engenheiros da Ferrari foi brilhante em 2017, mas partiu de uma base das mais eficientes, a do modelo SF70H, concebida pelos projetistas coordenados por James Allison, antes de ser dispensado pelo presidente da Ferrari, Sérgio Marchionne, e ser contratado pela Mercedes.

5. Toto Wolff, sócio e diretor da equipe Mercedes, declarou esperar muito mais de Valtteri Bottas este ano, que ele lute com Hamilton. O contrato de Bottas é de apenas um ano. O finlandês poderá repetir a proeza de Nico Rosberg, se superar e ganhar a batalha com Hamilton? Bottas saberá administrar a pressão explícita de Wolff desde o GP da Austrália? A permanência na Mercedes em 2019 depende de estar à altura de Hamilton, que desafio!

6. Por falar em Mercedes, qual será a influência da proibição da “queima de óleo” na F1? A obrigação de direcionar os gases do reservatório de óleo no ar, e não na tomada de ar do motor, a fim de que chegue na câmara de combustão, pode ter acabado com a farra de adicionar aditivos no óleo, como substâncias antidetonantes, e ganhar potência, em especial no Q3 da classificação. Aqueles cavalos extras da Mercedes tão úteis para garantir a pole position não vão mais existir? Qual será o impacto nas corridas se a Mercedes sentir o golpe?

Daniel Ricciardo disputa mais uma temporada pela RBR (Foto: Getty Images)

Daniel Ricciardo disputa mais uma temporada pela RBR (Foto: Getty Images)

7. Se em 2017, na Mercedes, Hamilton se mostrou bem superior a Bottas, e na Ferrari Sebastian Vettel ainda mais em relação a Kimi Raikkonen, na RBR não teve essa. O nível de Max Verstappen e Daniel Ricciardo foi e é semelhante, apesar de o holandês ter sido mais rápido nas classificações, 13 a 7. Assistiremos no fim de semana, agora, ao primeiro round desse combate particular da temporada. E provavelmente emocionante, reforçado pela prevista elevada competitividade do modelo RB14 da RBR. Ricciardo vai estar diante da sua torcida, estimuladíssimo.

8. Pelo que McLaren-Renault, Renault e Haas investiram em 2017 e demonstraram na pré-temporada, a luta pelo quarto lugar entre os construtores promete ser das mais disputadas nos últimos anos, com a possível chegada no bloco, mais tarde, de Williams e Force India. A etapa de Melbourne dará mais indicações de como pode vir a ser esse confronto múltiplo.

Alonso pilotará sua quinta temporada pela McLaren (Foto: Divulgação)Alonso pilotará sua quinta temporada pela McLaren (Foto: Divulgação)

Alonso pilotará sua quinta temporada pela McLaren (Foto: Divulgação)

9. Para a Honda, por enquanto está valendo a máxima: quem te viu e quem te vê. Na McLaren, de 2015 a 2017, colecionou fracassos. Nos oito dias de testes com a Toro Rosso, este ano, no entanto, surpreendeu em primeiro lugar pela confiabilidade e depois pelo avanço na resposta de potência. A mudança é tão brutal que Christian Horner, diretor da RBR, pediu à Renault para aumentar o prazo de resposta, ou seja, se a equipe austríaca seguirá competindo com a unidade motriz Renault, em 2019, ou chocará a F1 ao passar para Honda, deslocando a Renault de volta a Toro Rosso. A corrida da Austrália nos dará uma melhor ideia se o progresso da Honda é mesmo real, como parece.

10. O modelo VF18 da Haas tem enorme similaridade com a Ferrari SH70H, usada em 2017 e quase deu o título a Vettel. Ainda é um carro rápido, pois a base do regulamento é a mesma do ano passado. O desenvolvimento do VF18 não deverá ser tão eficiente como o realizado pela Ferrari, mas no início de campeonato Romain Grosjean e Kevin Magnussen devem vir fortes. Veremos quanto.

11. Fernando Alonso sempre que pôde afirmou que o chassi do modelo MCL32, de 2017, era um dos melhores do grid. Com uma unidade motriz mais eficiente na resposta de potência e confiabilidade que a da Honda a McLaren lutaria pelo pódio. Pois este ano a McLaren conta com uma unidade motriz vencedora, a da Renault. Muitas das atenções em Melbourne estarão sobre Alonso e a McLaren-Renault. O excepcional piloto espanhol jogou ainda mais responsabilidade sobre si.

Lance Stroll e Sergey Sirotkin formam a dupla da Williams (Foto: Reprodução)

Lance Stroll e Sergey Sirotkin formam a dupla da Williams (Foto: Reprodução)

12. E os meninos da Williams, hein? Lance Stroll, 19 anos, aprendeu muito em 2017 ao lado de um piloto experiente como Felipe Massa, mas ainda é um novato. E Sergey Sirotkin, 23 anos, estreia na F1. Essa juventude toda não ajuda a Williams a desenvolver um carro absolutamente novo como o seu, FW41-Williams, o que mais rompeu com o passado. A chegada do novo sócio e diretor técnico, Paddy Lowe, ex-Mercedes, já mexeu com a escuderia, mas quanto? Valerá a pena acompanhar mais de perto o trabalho dos jovens pilotos e do novo grupo técnico liderado por Lowe.

13. Pergunte no paddock qual time melhor investe seu dinheiro, qual o que reverte em velocidade cada libra esterlina investida. A resposta provavelmente será unânime: Force India. Ficaram em quarto nos dois últimos anos com um orçamento que não é diferente do da Sauber e Haas, 100 milhões de euros. Este ano a falta de dinheiro comprometeu o projeto e a construção do novo carro da Force India, nos testes pareceu ter perdido bastante espaço para McLaren, Renault e Haas. Como o grupo de engenheiros liderado por Andrew Green costuma surpreender, convém estarmos atentos ao que os muito bom pilotos Esteban Ocon e Sergio Perez vão fazer no Circuito Albert Park.

Charles Leclerc chega à Fórmula 1 com moral pela Sauber-Alfa Romeo (Foto: Getty Images)Charles Leclerc chega à Fórmula 1 com moral pela Sauber-Alfa Romeo (Foto: Getty Images)

Charles Leclerc chega à Fórmula 1 com moral pela Sauber-Alfa Romeo (Foto: Getty Images)

14. Pascal Picci não hesitou em investir na sua equipe, a Sauber. Fez um acordo com Marchionne, da Ferrari, para a exemplo da Haas, utilizar mais componentes da escuderia italiana. A divulgação da marca Alfa Romeo no carro da Sauber e a contratação do jovem talentoso monegasco Charles Leclerc faz parte desse acordo. Tudo isso e a liderança de dois novos diretores capazes, Frederic Vasseur, esportivo, e Jorg Zander, técnico, devem levar a Sauber a lutar para não ser a última no grid e nas corridas. É o que desejamos ver no sábado e domingo na Austrália.

14. Por fim, assistiremos aos pilotos alinharem seus carros no grid orientados, agora, por crianças com as placas das posições de cada um, não mais as chamadas grid girls, belas moças escolhidas a dedo. Será que a concentração dos pilotos será maior e teremos menos incidentes na largada? Será que boa parte da população mundial que se interessa por F1 se sentirá mais aliviada, por causa de as pernas das grid girls não mais serem expostas? Será que Chase Carey e Sean Bratches, os dois diretores da Liberty Media, empresa dona dos direitos comerciais da F1, mentores da mudança, vão ficar de pé e com a mão no peito enquanto os pilotos alinham seus carros no grid, em frente às crianças, enquanto cantam para si o hino americano?

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