Milton Neves diz que abriu mão da fortuna, ataca desafetos e detalha golpe milionário: "Incalculável"

02/05/2024 - 20:51 - Gerais

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Milton Neves diz que abriu mão da fortuna, ataca desafetos e detalha golpe milionário: \

 

Uma das premissas do bom jornalismo diz que o jornalista nunca pode ser mais importante do que a notícia. Em alguns casos, porém, os profissionais responsáveis pela interlocução entre a fonte e o público acabam se tornando parte importante da cena.

 

Milton Neves admite depressão após a morte da esposa: “Choro todos os dias”

 

Aos 72 anos, sendo 60 deles dedicados ao jornalismo esportivo, Milton Neves se transformou em referência na mídia esportiva brasileira quando o assunto é futebol. Nascido em Muzambinho, cidade do interior de Minas Gerais, ele ganhou o país por meio do rádio e da televisão.

 

Em uma imponente casa localizada num dos condomínios residenciais mais luxuosos da Grande São Paulo, Milton Neves vive praticamente sozinho. Na companhia de uma cuidadora e de alguns funcionários que mantêm as tarefas na casa avaliada em R$ 80 milhões, o apresentador recebeu o ge para um bate-papo sobre a carreira, a depressão após a morte da esposa, o golpe milionário que sofreu de um ex-funcionário e como conseguiu se tornar um dos rostos mais conhecidos da imprensa brasileira.

 

Em recuperação de uma fratura na mão esquerda, Milton Neves é pontual. Ao descer uma das escadas da sua casa, senta-se em uma sacada com visão para a imensa piscina localizada nos fundos da mansão.

 

Acho que é a primeira vez que vou aparecer na Globo.

— Milton Neves.

 

Com carreira de sucesso por grandes veículos de imprensa, como a Rádio Jovem Pan, o Grupo Bandeirantes e a TV Record, Milton diz que atualmente não reúne condições psicológicas de comandar um programa esportivo.

 

Antes de pedir demissão da Rádio Bandeirantes, em janeiro deste ano, o apresentador passava até seis horas seguidas por dia ao vivo falando sobre futebol. A morte da esposa, Lenice Neves, em agosto de 2020, mudou completamente a sua rotina.

 

– Tanta gente boa que me deu força, estou com uma depressão, psicologicamente estou muito abatido, mas já diminuiu um pouco. Mas eu não estou bem, não. Eu não vou estar bem até morrer. Mas essa dor vai diminuindo, eu vou fazer o quê? Foi uma surpresa. Eu vou falar uma coisa séria para você, a vida louca que eu tinha, eu que tinha que ter tido essa porcaria [câncer no peritônio], não ela com a vida regrada, nadava, uma mãe espetacular. Concebeu os meus três filhos, alimentou, orientou, educou, trabalhou, tudo ela fez por eles, sendo que eu só trabalhava. E eu me arrependo porque ficava pouco com ela.

 

– Quer dizer, quarta-feira e quinta quando tinha jogo eu dormia na Record, no meu camarim, porque aqui em casa é um pouco longe. A paixão que eu tenho por ela até hoje tinha que ter demonstrado no dia a dia, já que chegava estressado em casa, e muitas vezes a gente discutiu por motivos bobos e tudo por culpa minha. E desde 2020 que eu choro todo dia – conta Milton.

 

Milton define a carreira como uma casualidade, mas deixa a modéstia de lado ao afirmar que nunca será produzido no rádio esportivo brasileiro um profissional com a sua capacidade. Aos 16 anos, foi descoberto ao ajudar um radialista da cidade natal a testar o som do teatro de Muzambinho. Foi amor à primeira vista dele com o rádio, potencializado pela possibilidade de falar de futebol usando o seu maior dom: a voz.

 

Olha, eu não fico jogando falsamente para o lado, não. Não teve, não tem e nunca vai ter um apresentador esportivo de rádio melhor do que eu. É impossível, sou no rádio nota 9.8, na televisão levo um 6.9, já tá bom demais.

— Milton Neves.

 

Milton define a carreira como uma casualidade, mas deixa a modéstia de lado ao afirmar que nunca será produzido no rádio esportivo brasileiro um profissional com a sua capacidade. Aos 16 anos, foi descoberto ao ajudar um radialista da cidade natal a testar o som do teatro de Muzambinho. Foi amor à primeira vista dele com o rádio, potencializado pela possibilidade de falar de futebol usando o seu maior dom: a voz.

 

Olha, eu não fico jogando falsamente para o lado, não. Não teve, não tem e nunca vai ter um apresentador esportivo de rádio melhor do que eu. É impossível, sou no rádio nota 9.8, na televisão levo um 6.9, já tá bom demais.

— Milton Neves.

 

"Merchan" Neves e a fortuna

Milton Neves foi um dos pioneiros do mercado publicitário em programas esportivos de rádio e televisão no Brasil. Ciente do impacto do futebol na sociedade, rapidamente se transformou em um símbolo das propagandas, ganhando até mesmo o apelido de “Merchan” (merchandising) Neves – em alusão aos inúmeros anunciantes que tinha.

 

– O Merchan Neves, se era pretensão me diminuir, foi um tiro no pé, porque aumentou. Eu tenho a maior honra de ter defendido tanta, tanta empresa nessa época. Acho que umas 90, entendeu? Rádio, televisão, internet, acho até que mais. Eu contribuí "pequeninamente", mas eu contribuí para a economia nacional, porque comigo, meu amigo, o sujeito vende mesmo.

 

Eu vendo até areia para árabe lá no deserto. Nasci para isso, cara.

— Milton Neves.

 

Milton diz que o grande número de propagandas em seus programas despertou inveja de concorrentes do segmento. Neste período, Juca Kfouri se transformou em seu principal alvo de críticas.

 

– Teve uma época que cheguei a ter 35 anunciantes. Eu trouxe trocentos "merchans", e gente bandida, ordinária, sem talento, começou a me criticar. Jornalista não pode fazer propaganda, ainda mais de cerveja, que tem álcool, que eu era Brahma. O tempo passa e o Galvão Bueno, que é um cara que eu respeito demais, apesar de que eu o vi pessoalmente uma vez só (...) Esse cara é eclético, vencedor e tal. Aí ele fez publicidade da Brahma.

 

– O vagabundo, os vagabundos que me criticavam não tiveram coragem. Enfiaram o rabo no meio das pernas e não criticaram o Galvão Bueno, sabe? É crítica seletiva e inveja. É você o invejoso. Por isso que você está marcando o passo há 200 anos e não sai do lugar – relembrou Milton, sem citar o nome de Juca.

 

O dinheiro com a publicidade tornou Milton Neves milionário. Dono de centenas de imóveis, alguns deles localizados fora do Brasil, como em Miami e Nova York, o apresentador afirma que conseguiu fazer fortuna a ponto de ser mais bem pago que muitos craques de sucesso no futebol brasileiro.

 

– Depende do jogador, né? É, mas foi muito bom. Eu estou dizendo "foi" no passado porque estou fora do ar desde 1º de janeiro deste ano, pedi demissão na Bandeirantes porque eu estava numa depressão violenta. Não estava em condição, psicologicamente... Não fisicamente, eu estava ótimo, mas psicologicamente é o que vale. Agora eu confesso que estou com saudade do microfone.

 

Milton Neves revelou que passou todos os bens para os seus três filhos – ele não esteve presente em nenhum dos nascimentos por estar trabalhando. Além de ter atuado como escrivão do Detran, em São Paulo, Milton também tornou-se com o tempo empresário do ramo do café e da pecuária.

 

– Tudo que tenho hoje é um absurdo que eu nunca imaginava. Aliás, eu não tenho mais nada, né? Passei tudo para meus filhos em vida. Eles levaram um susto, não sabiam direito. Eu sempre acreditei em imóvel. Então, quanto mais eu ganhava dinheiro, comprava imóvel, tudo de sopetão, nada de frescura de ficar pesquisando.

 

– E 90% eu acertei, é imóvel demais. Lá em Guaxupé, Monte Belo, Muzambinho, Nova York, Miami e aqui em São Paulo, nossa, em São Paulo, na região dos Jardins, onde fica o prédio da Jovem Pan, onde eu tenho escritório. Juntando tudo acho que eu tenho também dois andares. Eu fui comprando. Pintou o dinheiro, puf, compro o imóvel, porque o imóvel ninguém rouba. O imóvel vai ficar lá sempre. É tudo dos meus filhos – revela.

 

Golpe milionário

 

Um ex-funcionário de Milton Neves é acusado por ele de desviar dinheiro de suas contas bancárias, além da emissão de notas frias. O valor é incalculável, segundo Milton. Em outras entrevistas, ele chegou a mencionar que o prejuízo ultrapassava os R$ 17 milhões.

 

– A maior desgraça que apareceu na minha vida como empresário. Um sujeito inteligente, mas ele incorporou que era eu, tanto é que levou vários amigos para o Essex House [hotel] em Nova York, porque hoje eu tenho dois apartamentos lá. Mas antigamente não tinha nada, a primeira vez que eu fui para Nova York fiquei no Essex House, na cara do Central Park, fundo do Central Park. E ele resolveu ir.

 

– Tudo que aconteceu comigo ele queria ter também. Uma obsessão. E ele controlava o dinheiro, era muito dinheiro. Ele precisa ter esse puxão de orelha, porque me roubou demais.

 

Milton diz ter contratado o profissional por ser um conhecido indicado por uma prima. Atualmente, o apresentador move um processo criminal contra o ex-funcionário, com a possibilidade de condenação entre dois e seis anos de prisão pelos desfalques financeiros causados.

 

– Foi a maior burrada que eu fiz na minha vida. É incalculável [o valor perdido], porque ele roubava todo dia e ele tinha minhas senhas todas, porque ele era o "bãozão". Tinha muito dinheiro nesse banco, então obedeciam a ele. Mas o ladrão, desesperado, o negócio dele, ele chegava lá "onde eu vou roubar hoje", uma coisa assim na cabeça dele, imagina. Roubou muito – disse Milton.

 

Desafetos e opiniões fortes

 

Ao longos dos 60 anos de carreira no rádio e na televisão, Milton Neves colecionou prêmios, grandes entrevistas e alguns desafetos. O atual senador Jorge Kajuru, o narrador Silvio Luiz e o jornalista Juca Kfouri ficaram conhecidos por críticas públicas ao apresentador.

 

Deus me deu talento e conhecimento da matéria chamada futebol. Uma vez me falaram: 'você sabe mais da minha vida do que eu'. Porque eu era viciado.

— Milton Neves.

 

Milton Neves adota tom mais ameno quando é perguntado sobre os problemas pessoais que teve com Kajuru e Silvio Luiz, atualmente internado com problemas de saúde.

 

– O Jorge Kajuru era meu maior fã, mas depois pegou no meu pé por influência do seu Juca Kfouri. Como você é incompetente, você já ouviu sua voz ou não? Ouça, ouça. "Ah, mas não faço publicidade". O rosto dele é antipático, soberbo e "sou intelectual". Pior que o filho dele eu que revelei, estava desempregado e xingava o pai de tudo que é nome.

 

– O Silvio Luiz Perez Machado de Sousa, aproveito pra desejar muita saúde para ele, muita saúde. Enquanto nós estamos gravando aqui, ele está no hospital. Bom, a gente era amigo demais. Eu comecei a crescer, crescer e ele resolveu pegar no meu pé também, mas desejo saúde pra ele. Depois do Luciano do Valle, ele é o mais marcante narrador de televisão, queiram ou não. Muito criativo, muito inteligente e pessoa que eu admiro na profissão. O cara marcou época – disse Milton.

 

Em contato com o ge por um aplicativo de mensagens, o jornalista Juca Kfouri respondeu às declarações de Milton Neves.

 

– MN (Milton Neves) é o chamado Mentiroso Nato. Basta?

 

Pelé e o próximo craque brasileiro

 

Milton Neves é enfático ao afirmar que Pelé foi o maior jogador de futebol da história, de acordo com a memória armazenada desde 1957, quando passou a acompanhar o esporte diariamente.

 

– Junta esses três gênios aí [Maradona, Messi e Cristiano Ronaldo] que não dá metade do Pelé. O Pelé foi a maior perfeição da história, perfeição total. O futebol brasileiro para valer é até o Pelé. Ele deixou muitos jogadores merecidamente ricos. Eu adorava ganhar do Corinthians.

 

– Estava fazendo um programa com o Neto na Bandeirantes, eu que coloquei ele na televisão. Meti o pau no Corinthians e o Neto me disse: "Milton Neves, para de falar mal do Corinthians, seu mal agradecido. Sem o Corinthians você estava passando fome". Pior que é verdade – brincou Milton.

 

O apresentador acredita que Endrick tem tudo para se tornar o astro do futebol brasileiro nos próximos anos, substituindo Neymar como grande protagonista do Brasil.

 

– O Endrick tem tudo para isso, estive com ele num evento da Federação Paulista e brinquei com os pais dele: "Vem cá, Dona Celeste. Vem cá, Seo Dondinho", os pais do Pelé. Eles não entenderam, claro. São duas pessoas maravilhosas, escolheram um nome internacional. Ele vai fazer publicidade na Europa porque esse nome ajuda.

 

– O Neymar já foi melhor, agora seis meses parado (...) Por que ele levava porrada? Primeiro porque é um grande jogador, os beques queriam tirar ele de campo. Depois porque provocava os caras, com o talento e provocação nua e crua.

 

Atualmente, Milton Neves vive rotina bem menos intensa do que em outros anos. Uma vez por semana, ele frequenta seu escritório onde mantém o portal "Terceiro Tempo", dedicado a notícias relacionadas ao esporte e que tem como grande marca a página "Que fim levou?", uma espécie de memória digital dos personagens que construíram a história do futebol brasileiro.

 

GE