01/12/2025 - 09:55 - Gerais
Jovem que invadiu jaula de leões e morreu no Parque Arruda Câmara tinha histórico familiar de esquizofrenia e vivia em situação de vulnerabilidade
A trajetória de Gerson de Melo Machado, de 19 anos, ganhou novos contornos após sua morte no Parque Arruda Câmara, em João Pessoa. O episódio, ocorrido quando o jovem entrou na área destinada aos leões, expôs não apenas a gravidade do acidente, mas também a longa história de vulnerabilidade que o acompanhava desde a infância. Documentos e relatos de profissionais que lidaram com ele ao longo dos anos revelam um percurso marcado por abandono, fragilidade emocional e ausência de cuidados especializados.
Gerson cresceu em meio a um ambiente familiar afetado por transtornos psiquiátricos. A mãe e os avós enfrentavam esquizofrenia, condição que influenciou diretamente a dinâmica da casa e o desenvolvimento das crianças. A conselheira tutelar que acompanhava seu caso, Verônica Oliveira, afirma que desde cedo o menino apresentava sinais que indicavam a necessidade de tratamento adequado. Segundo ela, muitos desses alertas não foram levados em consideração pelas equipes médicas que avaliaram o jovem ao longo da infância.
“Gerson, filho de uma mãe esquizofrênica, neto de avós esquizofrênicos, mas os psiquiatras insistiam em dizer que Gerson era só um menino que não se adequava ao espaço porque ele tinha problema comportamental”, disse Verônica.
A fragilidade emocional dentro da família levou à perda do poder familiar da mãe. Os irmãos de Gerson foram adotados, mas ele permaneceu nos abrigos da capital. A conselheira explica que a suspeita de um possível transtorno impedia que o jovem avançasse no processo de adoção.
“Justamente por ter possível transtorno. A sociedade quer adotar crianças perfeitas, coisa impossível dentro do acolhimento institucional, onde só chegam diante de negligência extrema”, acrescentou Verônica.
Ela acompanhava Gerson desde os 10 anos e afirma que a história do jovem sempre foi marcada por tentativas de preencher vazios emocionais com fantasias que carregava desde pequeno. Entre essas fantasias, uma das mais recorrentes era o desejo de conviver com leões e viajar para a África.
“Você dizia a mim que ia pegar um avião para ir para um safari na África para cuidar dos leões”, relembrou a conselheira.
Esse imaginário se concretizou em um episódio na adolescência, quando Gerson tentou acessar clandestinamente a área restrita de um avião no aeroporto de João Pessoa. A ação foi interrompida por equipes de segurança antes que causasse uma tragédia maior.
“Observaram pelas câmeras que havia um adolescente, antes que uma desgraça acontecesse”, contou Verônica.
O último capítulo da trajetória do jovem ocorreu na área de visitação da Bica. Após invadir o espaço dos leões, Gerson sofreu ferimentos graves e não resistiu ao choque hemorrágico.
Blog do Jordan Bezerra
Com informações de ClickPB
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