27/08/2019 - 15:38 - Gerais
Dom Hélder Câmara
“Quem, seja rico ou seja pobre, sente-se desesperado, terá um lugar especial no coração do bispo. Mas não venho para ajudar ninguém a se enganar, a crer que seja suficiente um pouco de generosidade e assistência social. Há misérias que gritam, diante das quais não temos o direito de ficar indiferentes”.
São palavras de Dom Helder Câmara pronunciadas no dia da sua posse na diocese de Olinda e Recife em 11 de abril de 1964. Palavras que mexem nossas consciências contemporâneas com a mesma força de então. Hoje, como naqueles anos, “Dom Hélder nos exorta a não esquecermos dos pobres, dos indefesos, dos marginalizados. Nós cristãos devemos lutar pelo direito dos que não têm voz, pelos oprimidos e os que sofrem. Temos que nos engajar em prol da paz e da justiça”, explica frei Jociel Gomes, religioso capuchinho, postulador da causa de beatificação do arcebispo.
Dom Hélder, nascido em 1909, faleceu aos 90 anos exatamente 20 anos atrás, dia 27 de agosto de 1999. Voz ativa contra a ditadura militar do Brasil, o religioso brasileiro caminha para se tornar santo da Igreja Católica; a fase local do processo reuniu 54 depoimentos. O processo de reconhecimento como santo entrará em nova etapa no início de setembro. Trata-se da abertura da fase romana das investigações. “O próximo passo será o Papa reconhecer, em nome da Igreja, que dom Hélder praticou em grau heroico as virtudes cristãs. Aí ele será declarado venerável”, disse Jociel Gomes.
A santidade de dom Hélder é incômoda, como a de São Óscar Romero. “Ambos tinham uma profunda intimidade com Deus. Ambos eram pioneiros das palavras que hoje Papa Francisco prega com tanta veemência: uma Igreja em saída, capaz de alcançar as periferias geográficas e existenciais”, afirma o postulador. É uma feliz coincidência que a sua causa chegue ao Vaticano pouco tempo depois da proclamação de São Romero. E de São Paulo VI, com o qual dom Hélder – como o mártir salvadorenho – cultivou uma preciosa amizade espiritual.
Além de compartilhar incompreensões e críticas pela fidelidade ao Concílio, ao qual ambos tinham participado e do qual ficaram profundamente marcados. Foi Paulo VI quem apoiou o “bispinho” - como era chamado por causa de sua altura – durante os difíceis anos da ditadura militar. Os generais, que Dom Hélder denunciava com coragem profética os abusos, tentavam desacreditá-lo de todos os modos. O “bispo vermelho”, zombavam por causa do seu compromisso evangélico em defesa dos direitos humanos e dos pobres que, até hoje, lotam a igreja das Fronteiras de Olinda, onde está a sua sepultura. Mas Paulo VI não dava crédito às falsas acusações. “Tinha saudades e vontade de revê-lo”, disse no último encontro em 15 de junho de 1978. “Irmão dos pobres e meu irmão”, foi a saudação de João Paulo II 8 anos depois durante a sua viagem ao Brasil. Mais uma prova do que o amado bispinho gostava de repetir: "a perseguição é normalíssima na vida cristã, mas Deus está conosco".
E para homenagear aquele que era conhecido como o “dom da paz”, o autor e compositor Antônio Cardoso lança a música “Dom da Paz”. Este trecho da composição revela um pouco da grande personalidade de Dom Hélder.
“Das brumas lá do Ceará
Saíste a todo lugar
Pra celebrar com o povo que resiste
Um bom pastor é sempre assim
Vai com o povo até o fim
Que saudade desde que partiste”
(Dom da Paz - Antônio Cardoso)
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