Lula recebe 12 líderes da América do Sul

30/05/2023 - 09:04 - Política

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Lula recebe 12 líderes da América do Sul

Lula recebe 12 líderes da América do Sul

 

O próximo passo da estratégia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de resgatar o papel de protagonismo do Brasil no cenário internacional será dado amanhã, em Brasília, na reunião de cúpula dos países da América do Sul. Dos 12 vizinhos continentais, apenas o Peru não enviará seu chefe de Estado. O país vive uma crise institucional e política desde que o então presidente, Pedro Castillo, deflagou uma tentativa de golpe e foi deposto, em dezembro do ano passado.


Mas a crise peruana não é um caso isolado. É só mais um exemplo da instabilidade política e econômica que atinge praticamente todos os países do subcontinente, e que marcará a reunião na capital brasileira. Até a tarde de hoje, todos os líderes devem desembarcar em Brasília, e o Itamaraty trabalha com a possibilidade de promover alguns encontros bilaterais antes do início da reunião de amanhã.


O primeiro a chegar à capital brasileira foi o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, na noite de ontem. Por causa da presença de tantos chefes de Estado, a Polícia Federal pediu reforço à PM do DF na segurança de embaixadas e hotéis.


Outro fator relevante da cúpula está na diversidade ideológica dos presidentes. A América do Sul não vive nem uma onda vermelha, progressista, nem uma maré conservadora. Também não tem, por falta de articulação nos últimos anos, nenhuma organização multilateral que sirva de fórum para debater problemas comuns. A União de Nações Sul-Americanas (Unasul), criada em 2008, tinha essa pretensão, mas está desativada desde que Jair Bolsonaro chegou ao poder, em 2019.


O então presidente via a entidade como um bloco de governos de esquerda, e aderiu à articulação de Colômbia e Chile para a criação do Prosul, um fórum de países governados pela direita, que ascendeu ao poder em meados da década passada. Com as mudanças de governo ditadas por eleições democráticas, em que não houve predomínio continental de uma ou outra corrente ideológica, as duas entidades fracassaram.


Um dos principais objetivos do presidente brasileiro é resgatar a união dos vizinhos em torno de uma nova (ou repaginada) entidade multilateral, dessa vez, sem viés ideológico, como explicou a secretária de América Latina e Caribe do Itamaraty, embaixadora Gisela Padovan, ao apresentar o desenho do encontro de cúpula. “Nós temos a consciência de que há diferenças de visão entre os vários países, diferenças ideológicas, e, por isso mesmo, consideramos um começo: que os países se sentem à mesa e dialoguem, busquem pontos em comum para retomar esse movimento tão importante.”


Por enquanto, em comum, está o fato de que cada país vive uma crise particular em cenário de baixo crescimento. O Brasil, após a troca de comando ditada pelas eleições de 2022, enfrenta uma disputa política entre um governo progressista e um Congresso majoritariamente conservador, o que dificulta a implementação de políticas públicas prometidas durante a campanha eleitoral e cria um horizonte de incertezas em relação à retomada do crescimento econômico.


Como é o anfitrião do encontro, o presidente Lula propõe uma agenda aberta, sem pontos específicos para serem discutidos. Mas apresentará aos vizinhos, além da proposta de criação de uma entidade que represente o subcontinente, duas questões que são tratadas como prioridade pelo governo brasileiro: a oferta de mecanismos de ajuda econômica à Argentina — segunda maior economia da América do Sul, que vive uma severa crise econômica e hiperinflação — e a reinserção da Venezuela na rotina diplomática e comercial da região.


No caso da Venezuela, será a primeira participação do presidente Nicolás Maduro em uma reunião com o Brasil desde que Bolsonaro rompeu laços diplomáticos históricos com o vizinho do Norte, fechando a embaixada brasileira em Caracas e todos os consulados. No ano passado, o então presidente ainda decretou a proibição da entrada de Maduro no Brasil. Com Lula no poder, a embaixada já foi reaberta e, agora, estão sendo finalizadas as ações para reabertura dos consulados.

 

 

Correio Braziliense