Escritor, dramaturgo, poeta, filósofo, professor e advogado. Essas são apenas algumas das ocupações que tentam definir Ariano Suassuna, mas não capturam a essência do romântico que ele era. “Era apaixonado a vida toda”, lembra seu filho Manuel Dantas Suassuna. Ariano foi casado até o fim de sua vida com Zélia, sua primeira e única namorada. “Alguns dias depois eu vinha na Avenida Guararapes. Quando olhei, ela estava na fila de ônibus. Aí eu me aproximei dela. ‘Zélia - eu já sabia o nome dela -, você se incomodaria de me conhecer sem ninguém nos apresentar?’ Ela disse ‘não’. Ela é meio atiradinha também. Alguns dias depois, ela me mandou convidar para ir para uma festa; aí lá dançamos a noite todinha e foi aí que começamos a namorar. Era o dia 20 de agosto de 1947 e até hoje não acabou, nem vai acabar, nunca!”, contou Ariano em 2011.

Zélia Suassuna, hoje com 92 anos, ainda vive no lar construído ao lado de Ariano. Ele nunca escondeu seu amor pela esposa, declarando-o publicamente em diversas ocasiões. Em uma aula-espetáculo no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, em 2011, ele relembrou com carinho o início de seu relacionamento. “A sorte dos homens como eu é que as mulheres bonitas, às vezes, têm um mau gosto desgraçado. Vocês acreditam que aquele esplendor que ali está se encantou comigo antes de eu me encantar por ela?”, brincou o escritor.

O casal se conheceu ainda na adolescência, quando Zélia tinha 13 anos e Ariano, 17. Foi anos depois, num encontro casual no cinema do Recife, que Ariano decidiu se apresentar. Esse foi o início de uma história de amor que nunca terminou. Ariano faleceu em 2014, mas o legado de sua parceria com Zélia permanece vivo na família e na arte. Juntos, tiveram seis filhos e 15 netos. As ilustrações dos livros de Ariano muitas vezes contavam com os desenhos de Zélia, e suas esculturas ainda adornam a casa da família.

O lar dos Suassuna foi mais do que um espaço familiar; foi também o cenário do quadro "O Canto de Ariano", exibido pela TV Globo entre 1999 e 2006. Neste programa, Ariano compartilhava suas reflexões e conhecimentos, sempre com um toque de humor e sabedoria. A família era tema recorrente, e Gabriel Suassuna, um dos netos, recorda com carinho dos dias de gravação. “Eu era muito jovem, muito novinho. Acho que tinha uns 7, 8 anos... e a gente sempre ‘morou’ aqui no quintal. Quando ia ter as gravações, era aquela reclamação para todo mundo ficar calado. Todo mundo lá no final do quintal, todo mundo em silêncio, ‘se fizer zoada vai atrapalhar a gravação’. Era um fuzuê, dia de gravação aqui", relembrou Gabriel.

João Suassuna, outro neto, acompanhou as gravações já na adolescência e recorda a alegria do avô ao gravar em casa. "O meu avô era muito brincalhão. Ele dizia: 'A Globo me paga pra fazer aqui em casa o que eu faço de graça pra todo mundo, que é contar história. E ainda mais, não me dá nem o trabalho de sair de casa, porque gravam aqui'. Na verdade, isso era uma genialidade de Ariano, porque era um convite, efetivamente, pra que todos se sentissem abertos a adentrarem literalmente no seu universo", contou João.

A irreverência de Ariano era sempre direcionada a Zélia. Em um dos programas, gravado em janeiro de 2003, ele contou que o dia mais importante de sua vida foi 6 de janeiro de 1948, quando Zélia aceitou seu pedido de casamento. Ele dizia que suas obras tendiam à tragédia antes de ser influenciado pelo amor de sua vida. "Nunca presenciei uma briga dos dois. É impressionante. Vovô teve uma infância muito dura. [...] Ele dizia: ‘foi ela que permitiu a irrupção em minha vida do riso a cavalo e do galope do sonho’. Esse foi o Ariano que a gente já conheceu como neto. [...] Um Ariano brincalhão, um Ariano palhaço, que pelo riso se comunicava com todos nós, com todos os brasileiros. Esse é o Ariano graças à Zélia", comentou João Suassuna.

Nesta terça-feira, completam-se 10 anos desde a morte de Ariano Suassuna. O escritor paraibano, que foi velado e sepultado no Recife, deixou um legado inestimável. Em homenagem à sua trajetória, o g1 e a TV Globo produziram uma série de reportagens resgatando momentos, feitos e memórias do patrono da cultura pernambucana.

Blog do Jordan Bezerra 

Com informações do G1