11/04/2019 - 10:49 - Policial
Nove dos dez militares que fuzilaram carro de músico com 80 tiros estão presos preventivamente
A juíza Mariana Aquino de Campos, da 1ª Auditoria da Justiça Militar, converteu a prisão em flagrante para preventiva de nove dos dez militares envolvidos no episódio que resultou na morte do músico Evaldo Rosa, em Guadalupe, Zona Norte do Rio, neste domingo. O décimo militar foi solto. Na ocasião, homens do Exército fuzilaram o carro onde estava a vítima e sua família, disparando 80 tiros. Evaldo morreu na hora e o sogro dele e um catador de rua ficaram feridos. O músico foi enterrado nesta terça no Cemitério de Ricardo de Albuquerque.
Os militares envolvidos são: o 2º tenente Ítalo da Silva Nunes Romualdo, o 3º sargento Fabio Henrique Souza Braz Silva e os soldados Gabriel Christian Honorato, Matheus Santanna Claudino, Marlon Conceição da Silva, João Lucas da Costa Gonçalo, Leonardo Oliveira da Costa, Gabriel da Silva Barros Lins, Vitor Borges de Oliveira. O soldado Leonardo Delfino Costa foi solto, por não atirar. A juíza fundamentou a decisão baseada nos artigos 254 e 255 alinea “e” do CPPM, e verificou “descumprimento aos princípios e regras que regulamentam o uso da força pelos militares em ações de segurança”.
A primeira nota do Comando Militar do Leste (CML) sobre o crime informou que soldados atiraram contra bandidos que praticaram assalto na área, “respondendo a uma injusta agressão por parte deles”. Após o caso ganhar repercussão e ficar provado que no carro havia uma família, o CML informou que iria apurar o episódio e, no dia seguinte, prendeu dez militares.
O advogado dos militares Paulo Henrique Pinto de Melo diz acreditar na inocência deles. “Não existe nada comprovado, vamos aguardar as investigações”, disse.
O procurador Luciano Moreira Gorrilhas comentou a decisão. “Pedi a prisão preventiva por homicídio e tentativa de homicídio. A guarnição fazia patrulhamento na Vila Militar e trocou tiros com bandidos em um carro com as mesmas características com o das vítimas. Eles encontraram o carro da família, ouviram tiros e aí fizeram os disparos”.
Em nota, o Ministério Público Militar “reforçou o sentimento de solidariedade aos familiares e amigos das vítimas”
Despedida
Quase 200 pessoas, entre amigos e parentes, se reuniram para prestar última homenagem ao músico no fim da manhã desta terça. Um deles é Carlos Donato, amigo da família e assistente social que atua na Comunidade do Muquiço e que levou uma bandeira do Brasil com manchas vermelhas como se fossem sangue.
“Essa bandeira simboliza um tiro na democracia. Um tiro no nosso direito de ir e vir. Um tiro na nossa cidadania. Um tiro na nossa liberdade. Não sei se vamos poder continuar andando nas ruas onde estamos acostumados a andar”, protestou Donato.
Ele também criticou o Exército. “Até agora, nem familiares e nem amigos, fomos procurados pelas autoridades, nem pelos militares. O governo do estado não se manifestou. O governo federal não se manifestou, e nós estamos esperando uma satisfação”, reclamou ele.
“Somos há mais de 50 anos vizinhos do Exército, que nunca veio falar conosco, nunca promoveu um tipo de ação naquele lugar, e quando vem, vem para dar tiro, para mostrar arma, nos reprimir”, lamentou Donato.
Ele disse, que espera, também, punição para quem comandou a ação que vitimou Evaldo ,e foi enfático quando perguntado sobre a possível saída dos militares da prisão ao final da audiência de custódia, que acontece nesta quarta-feira.
“Nós recebemos essa notícia com indignação. Queremos deixar ressaltado que é bem possível que aqueles que estavam ali e que apertaram o gatilho não são os reais responsáveis dessa ação. Qualquer pessoa que já passou por uma carreira militar sabe que um soldado, um cabo, um sargento não tem autorização para disparar um gatilho. Alguém estava ali e autorizou essa barbárie essa execução sumária. Alguém mandou atirar e quem mandou também precisa responder”, disse ele.
Donato contou que os moradores da comunidade estão com medo. “Eu sou negro e tenho um carro parecido com o do Evaldo. Quero saber se quando eu sair com minha família eu serei alvejado igual ao Evaldo. Queremos saber o que será de nó daqui pra frente. Esse será o modus operandi do Exército? Isso será naturalizado na nossa comunidade? A comunidade está com medo. Não sabemos o que ainda está por vir”, contou Donato, que fez um apelo às autoridades.
“Deixo aqui uma súplica, um clamor da comunidade do Complexo do Muquiço: nós queremos ouvir e ser ouvidos, queremos justiça. Evaldo era trabalhador, era uma família dentro do carro”, finalizou ele.
Fonte: O Dia
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