Pesquisa aponta que 21,4 milhões de brasileiras sofreram algum tipo de violência nos últimos 12 meses

11/03/2025 - 10:49 - Política

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Pesquisa aponta que 21,4 milhões de brasileiras sofreram algum tipo de violência nos últimos 12 meses

Pesquisa aponta que 21,4 milhões de brasileiras sofreram algum tipo de violência nos últimos 12 meses

 

Mais de 21 milhões de brasileiras, 37,5% do total de mulheres, sofreram algum tipo de agressão nos últimos 12 meses, de acordo com pesquisa do Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 

 

É o maior percentual da série histórica da pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”, iniciada em 2017, e 8,6 pontos percentuais acima do resultado da última pesquisa, de 2023. 

 

A pesquisa também mostra que 5,3 milhões de mulheres, 10,7% do total da população feminina do país, relataram ter sofrido abuso sexual e/ou foi forçada a manter relação sexual contra a própria vontade nos últimos 12 meses, ou seja, uma em cada 10.

 

No Brasil, o percentual de mulheres que sofreram alguma violência ao longo da vida por parceiro ou ex-parceiro é superior à média global: 32,4% contra 27%, de acordo com relatório recente da Organização Mundial de Saúde (OMS).

 

“O Brasil é um dos países mais violentos do mundo e isso se reflete no dia a dia das mulheres. A pesquisa mais uma vez nos mostra que as mulheres estão desprotegidas dentro de suas próprias casas, convivendo com os agressores que, na maioria das vezes, compõem seu círculo íntimo, sejam parceiros, ex-parceiros, parentes ou conhecidos”, diz Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança.

 

A ampla maioria das agressões ocorreu na presença de terceiros, 91,8%. Em 47,3% desses casos, quem presenciou foram amigos ou conhecidos; em 27%, os filhos; e em 12,4%, outros parentes.

Impacto nos filhos

 

O elevado percentual de agressões na frente dos filhos também levanta a questão sobre os impactos da violência doméstica e familiar na vida de crianças.

 

Estudos apontam que as consequências do testemunho da violência entre os pais podem ser tão ou até mais prejudiciais do que a violência direta contra a criança. 

 

"A convivência com conflitos intensos dentro de casa está associada a distúrbios emocionais, cognitivos e comportamentais, além de contribuir para uma percepção da família como um ambiente inseguro e caótico”, diz a pesquisa.


Samira Bueno afirma que os traumas e efeitos psicológicos seguem pela vida toda. “A literatura fala da violência intergeracional. Então, como isso afeta mulheres que são vítimas de violência doméstica, que um dia viram suas mães sofrendo violência?”, pondera. 


De acordo com ela, “naturalizar essas práticas de algum modo, influencia, na forma como elas vão lidar com isso na vida adulta, muitas vezes naturalizando e entendendo que isso é legítimo. E para meninos que, eventualmente, vão reproduzir esse comportamento, porque também naturalizam e entendem que é assim que em uma relação afetiva, os conflitos são solucionados”. 

 

A pesquisa teve apoio da Uber e ouviu 2.007 pessoas com mais de 16 anos, entre homens e mulheres, em 126 municípios brasileiros, no período de 10 a 14 de fevereiro de 2025. A margem de erro para o total da amostra nacional é de dois pontos para mais ou para menos.


  • Ofensas verbais: 31,4% das mulheres relataram insultos, humilhações ou xingamentos, um aumento de 8 pontos percentuais em relação a 2023. Isso representa cerca de 17,7 milhões de brasileiras
  • Agressão física: 16,9% das mulheres sofreram batidas, tapas, empurrões ou chutes, a maior prevalência registrada desde 2017. Aproximadamente 8,9 milhões de mulheres foram vítimas desse tipo de violência
  • Ameaças de agressão: 16,1% das mulheres foram ameaçadas de sofrer algum tipo de agressão física, totalizando cerca de 8,5 milhões de vítimas
  • Stalking: 16,1% das mulheres foram vítimas de perseguição, também representando cerca de 8,5 milhões de brasileiras
  • Abuso sexual: 10,7% das mulheres sofreram abuso sexual ou foram forçadas a manter relações sexuais contra sua vontade, afetando aproximadamente 5,3 milhões de mulheres

 

Pela primeira vez, a pesquisa questionou as brasileiras sobre terem tido fotos ou vídeos íntimos divulgados na internet sem seu consentimento: 3,9% das respondentes relataram terem sofrido esta violência, 1,5 milhão de mulheres. 

Outros tipos de violência


  • Lesão por objeto atirado: 8,9% das mulheres sofreram lesão em decorrência de um objeto que lhes foi atirado, representando cerca de 4,4 milhões de vítimas
  • Espancamento ou tentativa de estrangulamento: 7,8% das mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de estrangulamento, totalizando 3,7 milhões de vítimas
  • Ameaça com faca ou arma de fogo: 6,4% das mulheres foram ameaçadas com faca ou arma de fogo, afetando cerca de 3 milhões de brasileiras
  • Divulgação de fotos ou vídeos íntimos: 3,9% das mulheres tiveram fotos ou vídeos íntimos divulgados na internet sem seu consentimento, impactando 1,5 milhão de mulheres

Agressores

Os principais agressores são parceiros íntimos ou ex-parceiros: 

  • Cônjuges, companheiros ou namorados: 40% 
  • Ex-cônjuges, ex-companheiros e ex-namorados: 26,8%

Local 

  • 57% das mulheres entrevistadas indicaram que a violência mais grave ocorreu em sua residência,
  • 11,6% disseram que foi na rua 

Perfil das Vítimas

  • Faixa etária: Mulheres entre 25 e 34 anos concentram um percentual maior de vitimização, mas a violência é prevalente em todas as faixas etárias, especialmente entre 16 e 59 anos
  • Grau de instrução: 32,9% das mulheres com ensino superior relataram insultos, humilhações e xingamentos, enquanto mulheres com ensino fundamental apresentaram maiores índices de vitimização por espancamento, tentativa de estrangulamento e ameaças com faca ou arma de fogo
  • Perfil racial: 37,2% das mulheres negras relataram ter sofrido violência no último ano, com 41,5% das pretas e 35,2% das pardas tendo alguma experiência com a violência no período. Entre as mulheres brancas, o índice foi de 35,4% 
  • Quando consideramos a religião declarada pelas respondentes, 49,7% das mulheres evangélicas relatou ter vivenciado uma das situações citadas. A prevalência entre católicas foi de 44,3%. 
  • Considerando a situação conjugal, as divorciadas (60,9%) apresentaram prevalência superior à de solteiras (53%), casadas (44,4%) e viúvas (51,8%). Isto é, o rompimento pode ser mais um fator de vulnerabilidade

 

O dado sobre situação conjugal “torna evidente como é fundamental que as políticas públicas sejam capazes de estimular que a mulher rompa o ciclo de violência, ao mesmo tempo em que forneçam redes de apoio estruturadas que possibilitem à mulher estar segura para tomar essa decisão quando decide sair da relação”. 


Segundo o levantamento, o recorte de grau de instrução indica que os tipos de violência mudam em contextos educacionais distintos: 32,9% das mulheres com ensino superior relatam ter sido alvo de “insultos, humilhações e xingamentos”, mas sua experiência com formas de violência mais aguda como “ameaça com faca ou arma de fogo” ou “esfaqueamento ou tiro” é quase nula. 

 

Já as mulheres com apenas ensino fundamental apresentam menores índices de vitimização em relação às ofensas verbais, mas elevados níveis de vitimização por espancamento, tentativa de estrangulamento, ameaças com faca ou arma de fogo e até ferimentos por faca e arma de fogo.

 

Assédio

Mais de 29 milhões de brasileiras foram vítimas de assédio no último ano, representando 49,6% das mulheres com 16 anos ou mais entrevistadas. Os tipos mais comuns de assédio incluem: 

  • Cantadas e comentários desrespeitosos na rua: 40,8% das mulheres
  • Assédio no ambiente de trabalho: 20,5% das mulheres
  • Assédio em transporte público: 15,3% das mulheres
  • Agarradas ou beijadas sem consentimento: 9% das mulheres.

 

A reação mais comum diante da agressão mais grave sofrida foi a inação,relatada por 47,4% das vítimas. 

 

Outras respostas incluíram procurar apoio de um familiar (19,2%), recorrer a amigos (15,2%) e buscar ajuda na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (14,2%) ou em uma delegacia comum (10,3%). 

 

No último ano, apenas 25,7% das mulheres que sofreram violência recorreram a órgãos oficiais, enquanto 33,8% buscaram apoio entre familiares e amigos. 

Ciclo da violência

A pesquisa reforça que os episódios mais graves de violência não são fatos isolados, mas fazem parte de um amplo contexto de abusos físicos e emocionais.

 

As mulheres ouvidas pelo estudo relatam que, nesse ciclo de violência, a conduta do agressor inclui desrespeito e perda de autoestima (31,6%),intimidação (30,6%), privação de autonomia (29,5%) e invasão de privacidade (29,1%), entre outras práticas de controle coercitivo da vítima. 

Como pedir ajuda 


Em caso de emergência, quando há necessidade de intervenção imediata, ligue 190. 

 

Em caso de violência contra meninas e mulheres que não requerem intervenção imediata, disque 180.

 


g1