21/07/2021 - 20:55 -
Opinião
Por Marcos Nogueira
Uma simples suspeita, bem remota, se torna uma realidade: Marcelo havia contraído a covid-19. Mas nada que um tratamento, uma hospitalização, não possa resolver. Ora, não tinha comorbidade, era são e os sintomas quase que inexistiam. Apenas uma conjuntivite que não desapareceu com o uso de um bom colírio. Engano!
O filho médico foi mais cauteloso, indicando o exame ou teste para detectar o vírus. E deu positivo. Também o filho médico que aconselhou ir para João Pessoa. "Lá eu trabalho e há melhores condições de tratamento". Ele não descartou os médicos de Patos, apenas sentiu que aqui não havia tantos meios como na capital e ele poderia estar mais presente, em termos de assistência. E isso foi o grande passo para o desfecho satisfatório ou feliz!
Marcelo viaja atônito, sem saber da real situação, embora, em nenhum momento, tenha perdido a fé e a coragem. Alí se encontrava um devoto sertanejo. Um homem que não despreza Deus e que é capaz de agradecer até os fatos aparentemente desfavoráveis, como aquele que o fazia partir entre interrogações!
E não foi com muita alegria que tiveram, primeiramente, que buscar os préstimos de um hospital, enquanto aguardavam uma vaga num outro realmente para doentes e com o branco sendo realmente branco!
E parecia que a mão divina começava a agir com maior evidência. Deus e a virgem santa!
Os fatos são claros. Marcelo tem que fazer uso de um medicamento caríssimo, que estava em falta no nosocômio. Já se pensava em um empréstimo bancário, quando o telefone do filho médico toca. Era do hospital universitário, para dizer que o remédio, em falta há meses, havia chegado. Também uma vaga se abre. A vaga que a família de Marcelo tanto ansiava!
E se inicia uma verdadeira luta contra uma doença que já tomara quase todo o pulmão, que deixava o jovem jornalista debilitado, embora envolvido do amor de uma unida e abençoada família. E foi isso que ele fez ver, quando chamou o filho médico e lhe disse: "Não estou com medo; esse instante é difícil, triste, mas estou intimamente feliz". O filho médico o olhou com uma certa surpresa. Ele esboçou um sorriso, mesclado à lágrima, completando: "Veja, estou rodeado daquilo que mais amo... vocês, meus filhos, e minha adorada esposa. Que mais poderia desejar? Quero viver, quero continuar junto das pessoas que me querem bem, sendo a recíproca verdadeira. Entretanto, estou preparado para qualquer circunstância! E confiante na equipe à qual você tanto confia”.
Dito isso, aliviado, depois de alguns procedimentos médico-cirúrgicos, eis Marcelo mergulhado num mundo irreal. (Irreal?...)
Viu-se noutra esfera, vendo coisas jamais vistas; viu maravilhas inarráveis, como a dizer: Se estiver dormindo, não me acordem; se estiver acordada, não me deixem dormir!
Os músculos imobilizados o faziam a mercê das mãos mágicas ou até santas daqueles que juraram exercer a medicina como um sacerdócio, jamais pensando em fatores materiais. No meio desses, o filho médico, o “enviado” a Patos, naquele dia de muitas surpresas!
E Marcelo lembrou-se do Terço dos Homens, criado por ele e outros cristãos católicos de Patos. Lembrou-se suas peregrinações pelas cidades circunvizinhas, sempre levando a palavra de amor, a palavra de Deus e Nossa Senhora. Lembrou-de de Jesus, pregado à Cruz. E quedou-se, talvez, pelo sussurro da esposa e filhos- sua família- que rezavam, justamente, pela sua cura.
O tempo passava e para uma notícia de melhora, algo para desvanecer. Agora era uma bactéria alojada no pulmão. E novamente o clarão de luz, mostrando a fortaleza da fé ou, quem sabe, de um milagre que tomava grandes proporções! E quando se investigava a natureza patogênica desse microrganismo parasita, eis que, antes, o antibiótico era aplicado de maneira satisfatória.
E, de provações e privações, Marcelo foi retornando da 'viagem', como ele mesmo diz, com um ar de quem, sem ser masoquista, não maldisse em nenhum momento pelo que passava ou que passou. Sentiu-se como antes fora, adicionado de uma certeza: Patos lhe quer bem, muito bem! Ele não faz por menos: " Não imaginava ter tantos irmãos!” Nós o dizemos: Você colhe o que sempre plantou: a bondade e o reconhecimento! Jogo empatado... até nessa inabalável fé em um Deus soberano, bom, que nos dá o alento à caminhada e que nos faz sentir que vale a pena viver!
E Marcelo, Marcelo Negreiros, tendo nas mãos um simples terço, dado pelo seu filho médico, o 'enviado' a Patos disse, que, logo o recebeu, coisas estranhas começaram a acontecer, ele voltou a falar e sentir um perfume inconfundível, somente sentido pelos devotos de uma mãe santa...sim: Mãe-Rainha!
Marcos Nogueira é jornalista.