22/05/2019 - 01:07 - Opinião
Arquivo pessoal
Eu nunca fui, digamos, espiritualizado. Porém, não há um só dia em que eu não pense nele. E não são devaneios, mas lições. É quase a presença física. E todos os sinos se dobram em minha cabeça, numa ladainha eterna.
“A morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade e, por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”.
E foi assim que me fiz entender que eu era a menor de todas as medidas.
O remorso das horas é um fardo pesado demais para carregar sozinho. Ainda mais se você tiver perdido o bilhete da felicidade.
Ao lado de meu pai, no banco cinza da estação, vejo que os trens não partem. Ninguém deveria subir a bordo daquilo que nunca se termina.
O cálice me empurra para as perguntas sobre a imortalidade. Esse mundo é mesmo panfletário. E, meu pai me dá mais conselhos morto do que vivo. Ele é o meu único Santo.
Tenho medo de mim. Por isso, invoco-o em todas as agonias. Não quero mais essa dor que não me dói. Não fui eu que morri.
Olho, fixamente, na mesma direção que ele. Nenhuma palavra. Sigo segurando-lhe a mão bem mais fortemente... Não sei se o deixo partir (de novo) pois apartado só terei como companhia esses “morcegos Augustianos” a sobrevoar-me à cama.
Misael Nóbrega de Sousa
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