11/09/2020 - 09:34 - Gerais
Meninos do Ninho
Diante da recente divulgação de novas informações sobre o incêndio que matou 10 adolescentes no Ninho do Urubu, centro de treinamento do Flamengo, a Defensoria Pública do Rio de Janeiro afirma que as famílias que já acertaram as indenizações podem pedir que os acordos sejam revistos. Trocas de e-mails datadas de maio de 2018 dão conta de que o clube sabia das irregularidades do sistema elétrico do alojamento nove meses antes da tragédia.
Até o momento, o Flamengo fechou sete acordos de indenizações: Jorge Eduardo, Samuel Thómas, Áthila Paixão, Gedinho, Rykelmo (lado paterno), Vitor Izaias e Bernado Pisetta. O clube ainda precisa indenizar as famílias de Arthur Vinícius, Christian Esmerio, Pablo Henrique e o lado materno de Rykelmo.
- Algumas das famílias têm claramente o direito de pedir que esses acordos sejam revistos, principalmente as que fizeram primeiro, sem advogado, e se sentirem prejudicadas. Algumas têm me procurado para saber se é possível rever esse acordo - informou Cintia Guedes, coordenadora cível da Defensoria Pública do Rio de Janeiro.
As famílias percebem que isso poderia ter sido evitado, que os dirigentes sabiam, que foram alertados, mas simplesmente nada fizeram. Eu não tenho conhecimento dos outros acordos, mas sei que os primeiros que o clube fez foram valores muito mais baixos do que os acordos que estão sendo feitos agora. Esse é um dos pedidos que a gente faz na ação coletiva. Para que os acordos menores sejam revistos para as famílias receberem os mesmos valores - acrescenta Cintia, que foi quem intermediou o acordo de indenização à família de Samuel Thómas.
Cintia acompanha o caso desde o início. Junto com uma equipe formada por técnicos da Defensoria Pública, Ministério Público, policiais e bombeiros, ela estava no Ninho do Urubu três dias depois do incêndio. Para ela, as irregularidades no sistema elétrico constatadas pela troca de e-mails não causam surpresa.
- Se eu te disser que causou surpresa, é mentira. Eu acompanhei desde o início, eu estive lá. O que os e-mails dão notícia é que, ali, as instalações eram irregulares, que havia gambiarra. Isso tudo, para a gente que acompanha o caso, não causa surpresa porque a gente viu "in loco", viu essas gambiarras. A equipe técnica mostrou para a gente o que era visível para quem quisesse ver, que estava tudo ligado no mesmo disjuntor, fios desencapados, soltos... Lembro que todo mundo ficou muito assustado. Essa parte, para mim, não é surpresa.
Ela explica que, no entanto, a documentação mostrando que a administração do centro de treinamento sabia dos problemas é um fato novo relevante para o processo.
- O fato novo para a gente é a documentação de que a administração do Ninho sabia disso há mais de um ano. Até então, eles diziam que não tinha laudo técnico, nenhuma documentação de que eles sabiam das irregularidades das instalações elétricas. O que vimos nos e-mails é que a própria administração do CT contratou profissionais do clube para fazer essa vistoria, que os eletricistas fizeram um laudo dizendo que tinha irregularidade, que havia gambiarra. Problemas graves que colocavam em risco quem estava ali. Tudo isso foi passado direto para o diretor executivo (Marcelo Helman), que é tipo um síndico, e tudo isso foi ignorado. O que temos agora é a prova cabal de quem eram as pessoas que poderiam ter evitado tudo aquilo - completou.
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