30/10/2019 - 23:25 - Opinião
Manoel Gomes
Há poucos dias da entrevista que Milton Nascimento concedeu à folha de S. Paulo, quando disse que “A Música brasileira tá uma porcaria!”, respondendo sobre o cenário atual, surge através das redes sociais, a deplorável: “Caneta azul”, com seus inesperados milhares de visualizações.
Os likes de famosos, como: Neymar, Tirulipa, Wesley Safadão e Rodrigo Faro, acabaram proporcionando mais audiência, acelerando o processo de viralização.
O curioso é que o hit, que fala de um aluno que perdeu uma “caneta no caminho da escola”, chega a ser mais “sem noção” que o seu antecessor, “Boate azul”; este, “doente de amor, procurou remédio na vida noturna”. Ambas, sem qualquer inspiração musical, convenhamos.
Algo improvável de acontecer no país de Chico, Caetano, Gil, Jobim, João Gilberto e do próprio Milton... - Com suas composições talentosas e bem elaboradas. Basta lembrar: “Construção”; “Alegria Alegria”, “Drão”, “Garota de Ipanema”, “Chega de Saudade” e “Travessia”... – Comprometidas com as ilusões amorosas e a vida social e política do país, porém sem nunca ser piegas.
Neste país de que fala Milton Nascimento, é a cultura digital que faz com que qualquer pessoa acesse à internet para gerar conteúdos potencialmente virais através de: posts, textos e tweets divertidos, que ganham engajamento, rapidamente, e se tornam populares.
Nem cabe aqui, mas eu vou citar Ariano Suassuna, que cabe em qualquer lugar: “A massificação procura baixar a qualidade artística para a altura do gosto médio. Em arte, o gosto médio é mais prejudicial do que o mau gosto... Nunca vi um gênio com gosto médio”.
Pois bem, assim como o relâmpago, com seus milissegundos, esses fenômenos internéticos não produzem um sentimento mais demorado. O máximo que conseguem é fazer com que a gente dê boas risadas... - Para ofuscar-se na sua própria perplexidade!!
Misael Nóbrega de Sousa
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